Especialistas acreditam que os animais sintam arrependimento, definido como o reconhecimento de uma oportunidade perdida.
Se você tem um cachorro, especialmente um que destruiu seu tapete preferido, você sabe que um animal é capaz de pedir desculpas. Ele pode choramingar, andar cabisbaixo e encolher o rabo, parecendo positivamente envergonhado ― “Não sei o que me possuiu.” Mas será que ele realmente sente remorso? Será que algum animal poderia sentir a verdadeira dor do remorso?
Cientistas no passado desprezaram a idéia como sendo um tolo antropomorfismo e eu costumava ficar do lado dos céticos que consideravam os sinais de arrependimento variações das lágrimas de crocodilo. Os animais pareciam apegados demais ao momento e ocupados demais atrás da próxima refeição para se entregarem à auto-recriminação. Se animais velhos tivessem uma música, ela seria “My Way.”
Contudo, com o surgimento de novas descobertas – coiotes deprimidos, macacos tristes, tigres que cobrem os olhos por remorso, chimpanzés que pensam duas vezes em suas escolhas -, pergunto-me se os animais podem realmente ter arrependimento. Seu cão pode não partilhar da melancolia de Hamlet, mas ele pode ter algo em comum com Woody Allen.
Os últimos dados vêm de análises de cérebros de macacos que tentavam ganhar um suco como grande prêmio ao adivinhar onde ele estava escondido. Quando os macacos escolhiam errado e a localização do prêmio lhes era revelada, os neurônios de seus cérebros claramente registravam arrependimento, segundo neurobiólogos da Universidade Duke que recentemente reportaram o experimento na Science.
“Essa é a primeira evidência de que os macacos, como as pessoas, têm pensamentos ‘do que poderia, deveria ter sido’”, disse Ben Hayden, um dos pesquisadores. Outro autor do estudo, Michael Platt, notou que os macacos reagiram às suas perdas com a mudança de suas escolhas seguintes, assim como os humanos que respondem a uma oportunidade perdida através da mudança de estratégia.
“Posso imaginar que o arrependimento seja altamente vantajoso em termos evolucionários, contanto que não haja obsessão a respeito disso, como na depressão”, Platt disse. “Um macaco sem arrependimento pode agir como um psicopata ou um Dom Quixote simiesco.”
Nos primeiros experimentos, tanto os chimpanzés quanto os macacos que trocavam moedas por pepinos reagiam de modo negativo ao verem que os outros animais estavam conseguindo prêmios mais apetitosos – uvas – pelo mesmo preço. Eles produziam sons de raiva e às vezes atiravam os pepinos ou as moedas, reportou Sarah Brosnan, psicóloga da Univesidade Estadual da Geórgia.
“Acho que os animais sentem arrependimento, definido como o reconhecimento de uma oportunidade perdida”, Brosnan disse. “Na selva, essas habilidades podem ajudá-los a reconhecer quando devem passar a explorar áreas diferentes ou encontrar outro parceiro cooperativo que irá dividir a coleta de modo mais igualitário.”
É claro que ninguém sabe exatamente como esse sentimento de arrependimento afeta o animal emocionalmente. Quando vemos um cachorro cabisbaixo e curvado, tendemos a presumir que ele está sofrendo da mesma forma que nós após um passo em falso, mas talvez ele esteja apenas enviando um sinal útil: fiz besteira.
“É possível que esse tipo de sinal social nos animais tenha se desenvolvido sem a experiência consciente do arrependimento”, disse Sam Gosling, psicólogo da Universidade do Texas, Austin. “Mas parece mais plausível que haja algum tipo de experiência consciente, mesmo se ela não for do mesmo tipo que você ou eu sentimos.”
Marc Bekoff, ecologista comportamental da Universidade do Colorado, disse estar convencido de que os animais sentem dor emocional por seus erros e oportunidades perdidas. Em ¿Wild Justice¿ (Justiça Selvagem), seu novo livro escrito com a filósofa Jessica Pierce, Bekoff relata milhares de horas de observação de coiotes na selva, bem como de cães domesticados à solta.
Quando um coiote recuava após ter sido mordido com força enquanto brincava, o coiote atacante prontamente baixava a cabeça reconhecendo seu erro, Bekoff disse. Se um coiote era afastado por brincar de maneira injusta, ele se encolhia com suas orelhas para trás, cabeça inclinada e rabo para baixo, tentando se reaproximar e, depois, se afastando dos outros animais. Bekoff disse que os coiotes apologéticos o lembravam de animais impopulares se esgueirando tímidos nos arredores de um parque para cães.
“Esses animais não são tão emocionalmente sofisticados quanto os humanos, mas eles devem saber o que é certo e errado porque essa é a única maneira de seus grupos sociais funcionarem”, ele disse. “Arrependimento é essencial, especialmente na selva. Humanos são muito complacentes em relação aos seus bichos de estimação, mas se um coiote selvagem fica com uma reputação de trapaceiro, ele é ignorado ou banido, e acaba deixando o grupo.” Quando o coiote se encontra sozinho, Bekoff descobriu, seu risco de morrer jovem é quatro vezes maior.
Se nossos bichos de estimação têm consciência de como nós somos manteigas derretidas, talvez seu arrependimento seja em grande parte apenas um teatro para nós, tolos. Mas gosto de pensar que parte do pesar é real e que os pesquisadores irão um dia compilar uma lista dos 10 bichos de estimação mais arrependidos. (Você pode fazer nomeações no TierneyLab, em nytimes.com/tierneylab). Gostaria de pelo menos ver os pesquisadores desvendarem algumas das grandes perguntas sem resposta: Quando você pede para seu cão ir atrás da bola, quanto arrependimento ele sente ao devolvê-la a você? Será o mesmo sentimento de quando ele termina a brincadeira ao ficar com a bola?
Será que os animais vândalos sentem algum receio moral? Após ver tapetes, malas e móveis destruídos por meus bichos de estimação, não estou convencido de que a evolução tenha dado aos animais qualquer senso confiável de direito de propriedade. Mas fico tocado pelas histórias de Eugene Linden sobre vândalos arrependidos em seu livro sobre comportamento animal, ¿The Parrot’s Lament” (O Lamento do Papagaio).
Ele fala sobre um jovem tigre que, após destruir todas as árvores recentemente plantadas em um zoológico na Califórnia, cobriu os olhos com as patas quando o funcionário do parque chegou. E também fala de chimpanzés fêmeas do zoológico de Tulsa que se aproveitaram de um projeto de reforma para roubar o material dos pintores, vestir as luvas e pintar seus filhotes de branco. Quando confrontadas pelo tratador furioso, as mães correram e então voltaram com uma oferta de paz e seus filhotes limpos.
E quão estranha é a Síndrome de King Kong? Tanto gorilas machos quanto fêmeas se tornaram tão apegados a seus tratadores humanos que até se insinuaram sexualmente – um até mesmo arrastou sua tratadora pelo cabelo. Depois da rejeição inevitável, será que eles se arrependem de terem destruído uma linda amizade?
Será que gatos de estimação se arrependem de alguma coisa?
Tradução: Amy Traduções
Fonte: www.reservadorei.com.br